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James Lovelock, Gaia e a Emergência Climática


Crédito: PA Images via Getty Images


Miriam Dualibi


“Não é a Terra que é frágil. Nós é que somos frágeis. A Natureza tem resistido a catástrofes muito piores do que as que produzimos. Nada do que fizermos destruirá a Natureza. Mas podemos facilmente nos destruir”. Esta frase é de James Lovelock, cientista britânico falecido recentemente em Londres aos 103 anos.


Lovelock, conhecido por seus inúmeros alertas sobre o aquecimento global, formulou na década de 1970 em parceria com a microbiologista Lynn Margulis, a Hipótese de Gaia – nome em homenagem à deusa grega Gaia, mãe de todos os seres vivos – que considera a Terra como um ser vivo, um sistema capaz de autorregulação.


A Hipótese de Gaia surgiu a partir de estudos realizados por James Lovelock e Dian Hitchcock, no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, que buscavam verificar a existência de vida nos planetas Vênus e Marte.


Ao comparar as atmosferas desses dois planetas com a atmosfera do planeta Terra perceberam que a atmosfera terrestre apresenta como principal característica a instabilidade química, visto que possui gases altamente reativos como o O2 e o metano, enquanto as atmosferas de Vênus e Marte apresentam predominantemente gases estáveis como o CO2, o que segundo seus estudos, inviabilizaria existir vida nesses planetas.


As características singulares da Terra levaram Lovelock a desenvolver a Hipótese de Gaia, na qual se propõe que a biosfera atua como um sistema de controle adaptativo, mantendo a Terra em homeostase. Desta forma, Lovelock e Margulis chegaram a um aprofundamento da definição de Gaia, que implicaria a biosfera funcionando como um sistema de controle adaptativo e mantenedor da homeostase no planeta Terra.


A caracterização da Terra como um ser vivo ou um superorganismo com uma dinâmica fisiológica coloca nosso planeta como sendo muito mais importante do que uma simples moradia dos seres vivos e passa a ser uma unidade que engloba os seres vivos e o meio ambiente - que ‘sobrevive’ graças às relações entre estas partes e às características particulares geradas por esta interação e, que por sua vez, afetam a unidade, modificando-a.


A Hipótese de Gaia sugere também que os seres vivos são capazes de modificar o ambiente em que vivem, tornando-o mais adequado para sua sobrevivência. Dessa forma, a Terra seria um planeta cuja vida controlaria a manutenção da própria vida através de mecanismos de feedback e de interações diversas.


Durante toda sua vida, Lovelock alertou para o perigo dos seres humanos interferirem nas dinâmicas da Terra, como no caso da emissão desmedida de gases causadores do adensamento do efeito estufa (GEE), em tamanha quantidade e com tanta rapidez superando a capacidade de absorção e dispersão da atmosfera, ocasionando assim, o aquecimento da temperatura média da Terra. As decorrentes mudanças no clima e suas nefastas consequências como os eventos extremos, desertificação, subida dos mares, degelo, podem levar ao ponto de sério comprometimento das condições de vida para a nossa espécie.


Como bem disse Lovelock, a Terra resistirá. Quanto a nós, humanos, se a sociedade global continuar com tímidas iniciativas no sentido de enfrentar a crise climática, ou ainda pior, a negar as evidências, nosso futuro enquanto espécie estará definitivamente comprometido.

A preocupação de Lovelock era tanta que em uma de suas últimas declarações, afirmou que assim como ele, estávamos vivendo os últimos 1% de nosso tempo em Gaia.


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