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Pandemia é crise ecológica




O ano 2022 começou com o recrudescimento da pandemia do Coronavírus, que resiste apesar de 10 bilhões de vacinas já terem sido aplicadas na população mundial. Se estas preveniram milhares de mortes, diminuindo a gravidade dos sintomas da cepa Õmicron, o medo, a necessidade do isolamento, o uso de máscaras e a pressão nos sistemas de saúde persistem causando ainda mais abalos na economia mundial.


Ao mesmo tempo, temperaturas cada vez mais extremas e irregulares assustam populações do norte e do sul do Planeta. No Brasil, calor intenso com temperaturas próximas a 50ºC no Rio Grande do Sul, chuvas fortes e ininterruptas causam enchentes descomunais no sul da Bahia, em Minas Gerais, com consequências trágicas para centenas de comunidades, especialmente as que vivem em regiões mais vulneráveis geográfica e geologicamente.


Embora esses fenômenos venham se repetindo e se tornando mais severos ano a ano, ainda não está generalizada a percepção de que estes fenômenos são consequência do desequilíbrio ambiental causado pela espécie humana através de séculos de contínua degradação dos ecossistemas naturais.


Menor ainda é o grau de consciência sobre a interconexão dos fenômenos; apesar das evidências, fartamente denunciadas pela ciência e pelos ambientalistas, a aventura inconsequente da existência de nossa espécie na Terra parece não ter fim.


O desmatamento, a ocupação de áreas sensíveis e o comércio de animais silvestres podem ocasionar outras pandemias tão ou mais grave que o Sars-CoV-2. Lembremos que 60% das novas doenças infecciosas têm origem em animais - as zoonoses - e 70% destas são transmitidas por animais silvestres. Calcula-se que trilhões de vírus vivam em perfeita simbiose com animais silvestres na floresta amazônica. Com o desmatamento e as queimadas esses animais se aproximam dos centros urbanos, interagem com humanos e animais domésticos aumentando substancialmente a possibilidade de contágio, como aconteceu com o Covid19.


No entanto, o desmatamento continua descontrolado em todos os biomas do país. A Amazônia legal perdeu mais de 10.362km² de floresta nativa em um ano (dados do Imazon).

Os danos causados pela extinção de áreas florestais é enorme e provoca graves consequências como a emissão de metano (gás 23 vezes mais potente para o efeito estufa que o CO²) gerado pelas raízes e material orgânico que apodrecem no solo além da diminuição da superfície que serve de sumidouro de carbono da atmosfera.


O aumento das emissões de GEE (gases de feito estufa) tem como consequência direta o aumento da temperatura, que por sua vez, causa o desequilíbrio climático e o acirramento de eventos extremos como secas prolongadas (como a Amazônia tem vivido) alternadas por chuvas torrenciais e enchentes desastrosas.


Outra consequência do desmatamento é a diminuição dos chamados “rios voadores” que são cursos d’água atmosféricos formados por massa de ar carregadas de vapor de água. A floresta amazônica funciona como uma bomba de água que puxa para o continente a umidade dos oceano Atlântico que cai sobre a floresta sob a forma de chuva. Por sua vez a floresta devolve vapor de água para a atmosfera pela evapotranspiração. Estes “rios voadores”, devido a uma série de obstáculos geográficos em seus caminhos, partem em direção ao centro-oeste, sudeste e sul do Brasil levando umidade e chuva.

Portanto, desmatar a floresta para aumentar a área agrícola de pastagem é duplamente insano, pois destrói a floresta e sua biodiversidade e causa longos períodos de seca no centro sul do país, com gravíssima perdas na produção agropecuária da região.

A gravidade e urgência dos problemas exigem mudanças radicais e rápidas em nossa maneira de produzir, consumir e descartar. O grande desafio que se coloca à atual geração é responder às questões: como vamos viver à luz do fato do destino da humanidade, enquanto espécie, estar seriamente ameaçada pelo modelo de desenvolvimento predatório, excludente e antropocêntrico adotado pela maioria absoluta das nações modernas? Como vamos manter a qualidade de vida atual e garantir o acesso aos recursos naturais imprescindíveis para as futuras gerações? Nas próximas décadas a sobrevivência da humanidade vai depender da nossa ecoalfabetização, ou seja, de nossa habilidade de extrair conhecimento da natureza, entender os princípios básicos da ecologia e de viver de acordo com eles.

Necessitamos de mudanças profundas na maneira de nos relacionar com a natureza, alterar substancialmente o modelo que prioriza o lucro em detrimento da vida, ressignificar as relações humanas, contemplar o cuidado com o outro e com a Terra como bem essencial. O papel da educação ambiental crítica e transformadora é preponderante neste ritual de passagem da humanidade: construir com as pessoas um novo olhar sobre tudo que nos cerca, fomentar nos homens e mulheres de hoje sentimentos de admiração e respeito por todas as formas de vida e um profundo senso de comprometimento com a manutenção da complexa e fascinante Teia da Vida.

Assim, mais do que nunca, educar é preciso.

Para acompanhar uma conversa (UOL) entre especialistas sobre a crise pandêmica e a preservação do meio ambiente, acesse ao vídeo abaixo:




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