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Tragédias Anunciadas


Fonte: IPCC 2021


Cada vez que enchentes assolam estados brasileiros deixando atrás de si um rastro trágico de dor, desolação, vidas perdidas, anos de trabalho transformados em lixo, as inundações comovem a todos/as, despertam solidariedade nas pessoas dos quatro cantos do país que se mobilizam para ajudar quem tudo perdeu.


No entanto, muitos/as poucos/as de nós percebemos a relação estreita entre o que se passa nesses estados e os dados contidos nos relatórios do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas - IPCC, que divulgam dados importantes sobre a variação climática no planeta.


Não nos damos conta que os fenômenos climáticos como os que ora assolam nosso território, e que nos últimos anos já destruíram cidades inteiras em outros continentes, são apenas evidências dos fenômenos que cientistas e ambientalistas vem anunciando desde a década de 1990.


O Planeta está aquecendo, o clima está mudando e isto significa intensificação e maior frequência dos chamados fenômenos extremos. Assim chuvas abundantes se tornam torrenciais e frequentes, secas se prolongam até causar desertificação, ventos fortes transformam-se em ciclones e furacões.


Os cenários que o IV Relatório do IPCC (2007) que, infelizmente, a sociedade global considerou pessimistas e alarmistas já mostram ao mundo sua faceta real e dramática, refletida nas faces e olhos dos pais e mães que perderam seus filhos e filhas, das crianças sem responsáveis, das famílias sem casa, sem nada.


O sexto relatório do IPCC (2021) mostra que o mundo provavelmente atingirá ou excederá 1,5 °C de aquecimento no período de 2021-2040, ou seja, uma década anterior ao intervalo estimado pelo IPCC no relatório anterior. Se o mundo seguir um caminho de alto carbono, sem cortar as emissões advindas da queima de combustíveis fósseis e das queimadas e desmatamento, o aquecimento global poderá subir para 3,3-5,7°C acima dos níveis pré-industriais no final do século. Para colocar isso em perspectiva, o mundo não experimentou um aquecimento global de mais de 2,5°C nos últimos 3 milhões de anos.


Segundo várias comparações com modelos de computador capazes de prever o clima para um local preciso, os/as cientistas concluíram que o aquecimento global aumentou entre 20% e 90% a chance de haver enchente. Essas descobertas têm consequências imediatas de acordo com um novo estudo realizado por cientistas americanos/as e chineses, publicado recentemente em revistas cientificas que afirma que o aquecimento global talvez nem deva ser medido apenas em graus. Segundo eles/as, quando a temperatura aumenta, o ar retém mais umidade, quase 7% para cada grau Celsius. Quando essa umidade se condensa, libera calor ou energia. É por isso que quando chove, agora, são tempestades.


O engenheiro ambiental e professor da USP, Marcelo Marini Pereira de Souza, ao falar sobre a relação entre a mudança da temperatura do planeta e as enchentes, ressalta o estreitamento e a alteração dos leitos dos rios, como causas de grandes impactos, para além do aquecimento global.

Segundo Souza, o efeito estufa, causado pelo carbono parado na atmosfera, pode ser comparado a uma panela fechada onde o calor entra e não se dissipa, causando o aumento da temperatura da Terra e, consequentemente, a ocorrência de eventos extremos mais frequentes, como chuvas, calores e frios mais intensos, por exemplo.

A mudança climática já impactou todas as regiões da Terra. Não estamos apenas quebrando recordes de aquecimento e outros impactos, mas o mundo em que vivemos hoje não tem paralelo recente.


Enquanto isso, o povo brasileiro enterra seus mortos e mortas, se mobiliza em campanhas por água potável, alimentos, roupas, reconstrução de casas. O governo lamenta, abre os cofres. Todos/as agem como se tratasse de um evento isolado, ocasional, mas não é disto que se trata, mas sim de alterações profundas nas características climáticas. Fenômenos que vieram para ficar e que tendem a se agravar.


É preciso, a exemplo de países adiantados, falar sobre adaptação. Como vamos adaptar nossas cidades para as novas frequência e intensidade de chuvas? Precisamos desocupar as encostas de morro e as regiões vulneráveis geografica e geologicamente, reflorestá-las e reassentar as famílias em áreas seguras; repovoar as matas ciliares, aprofundar as calhas dos rios, interromper o despejo de resíduos nos cursos d’água, interromper as ocupações ilegais e a especulação imobiliária.


Temos que permeabilizar as cidades, criando telhados verdes, parques e bosques urbanos que possam reter as águas de chuva, dirimindo enchentes. É necessário redimensionar obras de infraestrutura para a nova realidade climáticas.

Há muito a ser feito, mas especialmente temos que tomar consciência que precisamos repensar nosso modo de ser e estar neste Planeta para garantir a permanência da vida de nossa espécie, com qualidade, na Terra.


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